Sinceros

Confusões, esperanças, sonhos, ambições. Todas as divagações que três mentes, distantes no espaço mas não no tempo, podem alimentar serão expostas neste blog. O tudo e o nada servirão de temas para as excentricidades destes loucos!

sábado, fevereiro 26, 2005

Do Amor & Sempre

Josué ia de peito inflado pela aléia florida a caminho de sua primeira experiência daquele tipo. Não demonstrava medo ou sequer receio do que viria pela frente.
Tinha desde muito cedo certeza sobre algumas coisas na vida, pois, como caçula, teve o beneficio da experiência de ter vivido a vida dos irmãos junto com eles.
Não era do tipo retraído ou mesmo intelectual, suas leituras ainda se resumiam a rótulos de latinhas de conserva e cereais, mas sentia como se o mundo todo pertencesse a ele, Josué sempre fora muito precoce.
Não tinha duvida sobre o que ia fazer. Josué estava decidido.
Seus passos miúdos sobre o cascalho do caminho produziam um som gostoso, algo entre entorpecedor e estimulante. Entrementes, ele não se deixava tomar nem por um nem por outro estimulo.
Sua altivez talvez viesse exatamente de nunca ter tentado aquilo antes, mas estava resoluto. Não voltaria atrás por nada deste mundo, mesmo que os pais lhe aparecessem pela frente e implorassem que ele não fizesse aquela loucura, ele não deixaria de ir até o fim.
Olhos faiscantes e penetrantes adornavam um rosto róseo e rechonchudo. Cabelos qual breu da noite, davam-lhe um aspecto intelectual que os pequenos óculos ajudavam a compor. Suas pernas eram fortes e decididamente arrasariam qualquer um que atravessasse seu caminho!
Ela já o estava esperando no coreto da praça, ele podia sentir. Havia prometido a ele que às duas horas estaria lá. Não faltaria, ele tinha certeza. Desde que eram mais novos, alias, desde o jardim de infância ele sabia que tinham sido feitos um à imagem e semelhança do outro, que nada no mundo os podia separar. Só arrependia-se de ter criado coragem somente agora para por em pratica algo que ele desejava a muito.
Mas o coreto estava vazio...........................................................................


Nem sinal dela em parte alguma. Correu como um louco até a casa dela! Foram longos e angustiantes passos, nunca ele correra tanto...
Lá estava ela, na janela do quarto a se esvair em lagrimas, qual princesa que deve ser resgatada pelo príncipe, que antes tem de passar pelo dragão postado à porta do castelo, e que atendia pelo nome de Dona Silvia.
Mas esse dragão era bondoso e compreensivo. Dona Silvia com muito tato explicou a ele que Julia não poderia ir brincar porque estava com sarampo.
Que decepção!!!!!!!!!!!
Ele arrasado, pensava em como a vida é ruim com uma criança de oito anos, que finalmente consegue convidar seu primeiro amor para brincar... Realmente, Josué é muito precoce, já sofre por amor!

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sábado, fevereiro 19, 2005

Vaidades

Marisa estava sentada na beira do lago, atirando pedrinhas nágua, admirando o Pôr-do-sol naquele entardecer maravilhoso.
Seus pensamentos voavam qual andorinha... Procurando o bando para formar novas idéias. Ela sabia que tudo aquilo que ele lhe dissera era verdadeiro. Tinha de ser.
Não, NÃO!!! Ela se negava a acreditar que ele só lhe dissera todas aquelas palavras lindas para arrastá-la até ali e agora desaparecer. Deixá-la com seus pensamentos e desencantos era a pior idéia que ele teve. Ela sempre teve medo de si mesma, de seus desejos, de seus arroubos.
Mas porque sempre que ele lhe falava ao ouvido, mesmo só o sussurrar de sua voz, a deixava com uma lânguida sensação de plenitude, de que nada a poderia afetar?
Ela lembrava da infância, sempre tivera orgulho de seus vestidos, seu cabelo, seu rosto que todos diziam angelical!!
Sua faceirice menineira atraia olhares de inveja das outras meninas e olhares de cobiça dos rapazes. Sempre estava rodeada de admiradores secretos, e outros nem tão secretos assim.
Manteve afastados todos os rapazes, mas nunca deixou de lhas cultivar a chama do desejo por ela. Sabia manipulá-los para que atendessem todos os seus desejos. O reconhecimento Maximo para qualquer deles era ela lhes dirigir um sorriso!!!
E agora ela estava ali, sozinha, a esperar pelo único homem que penetrou aquele coração insensível.
Lembrava das brigas que provocava entre os homens. Que sentimento mesquinho a levava a promover o embate daquelas marionetes de carne e osso, nem mesmo ela sabia. Mas com seu ar superior, seus desvelos para com um em detrimento de outros, despertavam a ira entre seu séqüito de bobos da corte, como ela mesma fazia questão de nomeá-los.
Sua vaidade era imensamente satisfeita ante a visão daqueles a quem nada prometia, e que mesmo assim beijavam o pó onde seus delicados pés tivessem pisado.
Mas ai ela conheceu Roberto...
Ele não era igual aos outros. Altivo, senhor de si e do mundo sabia que causava furor por onde passava.
Almas gêmeas. Clichê inevitável ao contar o encontro daqueles dois seres.
Mas ela ainda estava ali esperando-o.
Começaram a se encontrar todos os dias, ele lhe fazia as maiores juras de amor que um homem pode fazer a uma mulher. Ela estava completamente apaixonada mesmo antes que ele colasse os lábios aos dela.
NÃÃÃOOOOO!!!
Ela se negava a acreditar que ele somente desejava dar-lhe uma lição por ter ela pecado por soberba contra o mundo. Que seus gestos e desvelos eram calculados, sem sentimento! Ele ardia de desejo por ela, sabia-o bem. Não havia se apaixonado pro um qualquer...
Mesmo assim, começava a duvidar. Três dias a esperar e ele não retornou.
NÃO RETORNOU!!!
O que ela não imaginava, era o acidente que ele sofrera ao aceitar, por vaidade, disputar corrida com um canalha tão vaidoso quanto ele, que não pestanejou em empurrá-lo ladeira abaixo quando viu que iria perder a aposta...
A ultima imagem que lhe veio à mente foi Marisa, a esperá-lo na beira do lago, atirando pedrinhas nágua, admirando o Pôr-do-sol naquele entardecer maravilhoso, antes de seu carro bater nas pedras e explodir.

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sábado, fevereiro 12, 2005

Constatação

"A experiência de nada serve à gente.
É um médico distraido:
Põe-se a forjar receitas
quando o doente já estás perdido"


Mário Quintana

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sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Crianças

Criança é bicho triste, quando encasqueta com uma coisa, não há cristo que tire aquilo da cabeça dela. Lembro que quando eu era pequeno queria logo aprender a ler para entender tudo que “os grandes” viam naquelas placas enormes ou naquelas folhinhas grudadas umas nas outras, que só depois eu descobri que eram... gibis!!!
Gostaria muito de dizer aqui que comecei a minha educação literária lendo Flaubert, Descartes, Sartre ou mesmo Platão, mas foi com um gibi, um mero gibi que me deslumbrei pela primeira vez, li todo numa sentada (claro que neste caso, levei pelo menos uns dois dias. Sabe como é: V-o-v-ó v-i-u a u-v-a).
Até hoje, depois de vint... de muitos anos, lembro o que senti quando pude ler sozinho aquelas placas enormes, que eu agora sabia chamarem-se outdoor. Eu estava ficando grande!!!!
Hoje, depois de ler tantos livros, aprender tanta coisa, parece que eu perdi alguma algo no caminho, talvez porque quando criança, vemos o mundo do melhor ângulo...

- Sabe a borboleta?
- Que é que tem?
- Ela é tão colorida...
- Grande coisa guri, tem um monte de bicho mais colorido que a borboleta!
- Qual bicho pai?
- Bah tchê, um monte!
- Diz um.
- Tigre, tigre pintado tem um monte de cor.
- Tem não pai, é onça pintada, e parece um tapetinho que a gente tinha... todo manchado!!

Aquele pedacinho de gente corria de um lado para o outro, quando viu uma cena que parecia saída de um filme de ficção cientifica: Um Louva-a-Deus.

- Mãe, MÃE, MANHEEEEEEEEEEEE!
- Que foi Luisinho (coitadas das crianças, só porque são pequenas são sempre “inho”)
- Mãe, olha aquele bicho ali....
- É um Louva-a-Deus meu filho. Não chega perto que é perigoso (pra mãe, todos os bichos são perigosos).
- Mas é tão esquisito... porque ele chama Louvadeus?
- Não é louvadeus, é Louva-a-Deus. Ele se chama assim por que parece que ele esta sempre rezando.
- Coitadinho, deve ter tanto pecado!!!

Não tem mesmo como discutir com essas crianças.

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quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Desencanto

Noite gélida. Noite solitária.
Ao seu lado na cama ela continua dormindo, satisfeita após o gozo libertador e prazeroso. Mas ele continua com os olhos abertos e a mente desperta.
Não sentiu prazer algum naqueles momentos que passaram juntos, apesar de amá-la...Não, não à ama.
Levanta-se sem fazer barulho e, da sacada, contempla as estrelas no céu límpido, tão límpido que lhe recorda olhos que marcaram sua vida para sempre.
A noite cada vez mais fria e ele ali, parado nu esperando. Esperando nem mesmo ele sabe o que!
Cada momento de sua vida terá valido a pena? Porque permanece nele o sentimento de que nada em sua vida esta certo, uma sensação de inferioridade ante as outras pessoas que ele não consegue explicar, apesar de ser belo, jovem, rico e bem sucedido.
Cada centímetro de sua pele se ressente da tepidez da noite, mas ele continua imóvel. Porque?
Insanamente ele passou a vida procurando a felicidade, agora se sente no fim da vida, com certeza de que todos os momentos felizes de sua existência não passaram de meras amostras de uma felicidade imensa, que ele agora sabe ser impossível alcançar.
A neve cai sobre sua fronte desnuda, e mesmo assim ele permanece sujeito ao encanto das estrelas.
Porque ele não volta para a cama acolhedora e quente, para aquele corpo macio e lânguido que o espera ali, a alguns passos, pronto a dar-lhe prazer e completar sua existência? Ninguém sabe... Nem mesmo ele.
Seu coração permaneceu gelado como aquela noite por muito tempo, talvez por um único instante ele tenha conhecido o amor, mas a mulher dos cabelos cor de mel se foi e ele voltou a insensividade com que passou pela vida. Nunca mais soube doar-se sem esperar conforto, amar sem esperar recompensa.
Ele já não sente seus membros.
Olha pelo vidro que o separa do quarto calidamente aquecido e vê o corpo daquela que o ama sem reservas, ele sabe. Sente algo indefinido, entre paixão e desprezo, não por ela, mas por ele mesmo... É triste não amar alguém sem freios e amarras!
Ele antegoza o momento, sentindo o coração que lhe bate cada vez mais descompassado.
Doce encanto, vida amarga. Não, o que marca sua vida é a acidez corrosiva daqueles olhos que o miraram uma única vez e derreteram sua mascara de gelo, deixando-o desnudo em meio a um mar de mascaras. Cabelos cor de mel...
Agora é tarde, aquela não voltará... Nem mesmo ele, pois a tênue linha que o prendia a vida se rompeu, e seu corpo inerte repousará para sempre, mas sua alma encontrará aquela que realmente amou.

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