Sinceros

Confusões, esperanças, sonhos, ambições. Todas as divagações que três mentes, distantes no espaço mas não no tempo, podem alimentar serão expostas neste blog. O tudo e o nada servirão de temas para as excentricidades destes loucos!

terça-feira, julho 25, 2006

...A guerra havia começado há meses, e as notícias dos mortos aterrorizavam os dois lados. Mesmo assim, o Império, numa fúria sangrenta para combater os resistentes, enviava mais e mais tropas. Os fazendeiros bastante enfraquecidos, diante de todo o poderio do Império, já estavam ficando sem dinheiro, sem homens, sem armas para poder enfrentá-los nas frentes de batalha, e assim, resolveram eles mesmos ir para o combate, deixando para trás suas mulheres, suas filhas...Elas para fugirem das tropas que avançam pelo interior, juntavam o que podiam carregar e fugiam para as fazendas mais distantes de que tinham notícias numa tentativa inútil de se protegerem.
E assim, uma dessas caravanas de mulheres, num lugar cercado por árvores, vales e riachos, encontrou uma parte da tropa de soldados do Império que se deslocava rumo ao interior. Nem todos os inimigos eram inescrupulosos, odiosos, e sim, possuíam uma honra, uma bravura, uma coragem, uma bondade indizíveis, embora se prestassem a um propósito nada louvável, bem como nem todos os aliados eram fiéis e leais e se vendiam a qualquer promessa de poder oferecida.
Um desses soldados era o Capitão Rodrigo que encontrou Rosário, a mulher que iria amar pelo resto de seus dias...Os soldados ajudaram o grupo de mulheres a fazer a travessia do vale, até a chegada da fazenda. A viagem levou vários dias. Durante à noite eles montavam acampamento, para prosseguir no dia seguinte. Capitão Rodrigo era ainda muito jovem, com um olhar doce, uma voz calma, mas firme, e amava Rosário, amava como se ama poucas coisas nessa vida, como se fosse a noite que lhe trazia descanso, como se fosse calor morno que encontrava na boca dela. E ela amava Rodrigo como se ama toda a proteção devotada, como se ama o desespero. E assim, seguiu a viagem de Rosário e Capitão Rodrigo até que chegaram a fazenda...
No dia seguinte, os soldados foram embora, deviam seguir e encontrar o restante dos soldados, já que haviam se desviado vários dias de sua rota, e a notícia de uma nova batalha estava se tornando uma realidade inevitável. Capitão Rodrigo partiu, Rosário ficou segurando as lágrimas e esperando pela sua volta...vários dias se passaram...alguns dias amanheceram, muitas noites vieram...os meses se acumuluram...e Rosário se sentia morrer, por certo Rodrigo havia morrido na batalha. Numa manhã Rosário levantou e foi até o celeiro, não suportava mais a dor, não suportava mais tanto barulho naquela casa, e encontrou algo se debatendo entre as palhas, quando se aproximou encontrou sangue pelo chão e mais adiante Rodrigo todo ferido, ensanguentado, ardendo em febre...
Rosário cuidou todos os dias de Rodrigo, mesmo que em alguns dias ele estivesse preso apenas por um fio de vida, mesmo que às vezes ela não tivesse certeza de estar limpando as feridas de um corpo que ainda estava vivo, ou que já houvesse partido há poucos minutos. Rosário amava tanto Rodrigo, que passava os dias com sua cabeça em seu colo, tentando aliviar suas dores, aquecer seu corpo, beijando-lhe de leve a face e pedindo-lhe que não fosse embora porque ela sempre estaria lá por ele. Rodrigo melhorou, mas teve que ir embora, mas todos os dias, ele voltava e ficava por longas horas com Rosário, se despediam e ele ia embora, para no outro dia voltar, e assim se seguiu.
A guerra acabou, e Rodrigo continuou visitando Rosário todos os dias, do mesmo jeito, com aquele uniforme velho e sujo de sangue, que nem ele sabia ao certo porque ainda usava...
Rodrigo morreu naquela batalha, mas amava demais Rosário para deixá-la...

(do que ficou em mim de uma cena de A Casa das Sete Mulheres)

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