Sinceros

Confusões, esperanças, sonhos, ambições. Todas as divagações que três mentes, distantes no espaço mas não no tempo, podem alimentar serão expostas neste blog. O tudo e o nada servirão de temas para as excentricidades destes loucos!

terça-feira, julho 21, 2009

Autopsicografia


Jeff?! Meu preferido !

Segue:
    AUTOPSICOGRAFIA

    O poeta é um fingidor.
    Finge tão completamente
    Que chega a fingir que é dor
    A dor que deveras sente.

    E os que lêem o que escreve,
    Na dor lida sentem bem,
    Não as duas que ele teve,
    Mas só a que eles não têm.

    E assim nas calhas de roda
    Gira, a entreter a razão,
    Esse comboio de corda
    Que se chama coração.

    Fernando Pessoa

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segunda-feira, julho 13, 2009

Doeu

Conforme ia lendo o post da minha amada amiga, logo ai, embaixo, foi me dando uma dor, dor daquelas fininhas, dorzinha chatinha que demora a sumir.

Sabe quando a dor vai nascendo, lá no fundinho da alma? pois é, comecei a ler e a dor foi se formando, primeiro pequenininha, bem escondidinha. Mas ela foi crescendo, se avolumando no peito, mas mesmo assim uma dorzinha fininha, que dói sem dizer onde, nem porque.

Fernando Pessoa já explicava em tempos idos: "O poeta é um fingidor / finge tão completamente / que chega a fingir que é dor / a dor que deverás sente." Não sei se finjo tão bem minha dor, ou ela finge me deixar tão mal. O que sei é que apesar de fingidor, a dor que fui sentindo era real.

E apesar de agora ser só uma história formada por bits e bytes, essa dor pertenceu a alguem antes de mim. Foi contada por alguem que a sentiu tão pungentemente que só alinhando palavra após palavra pode amainá-la. Uma pessoa que tem na alma, bem escondidinha a verdade de sí mesma. Que sente a dor, sem finjir, em sí mesma.

Mas o que restou para mim, mero leitor?

Restou sentir a dor, dor fininha, dor doida, dolorida, dor da realidade.

Mas essa dor, e outras tantas dorzinhas, pequenininhas, crescem dia a dia. Quem sabe explodem qualquer hora, saindo em pequenas lagrimazinhas?

Acho que não. Essa dorzinha fica guardada, bem escondidinha. Até que ela, quem sabe um dia, escape junto com as lágrimas de alegria.

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quinta-feira, julho 09, 2009

Prometi que voltaria pra terminar a história que ela começou a me contar com um "Vixi!", mal sabia eu que nesse 'vixi' cabia um tanto e mais um pouco ainda de dor.
Vixi! disse ela:
dia desses me encontrei com aquelas histórias mal resolvidas,
na verdade a história mal resolvida me ligou, com uma desculpa esfarrapada, e eu pra variar só um pouco, na ânsia de tentar resolver anos e anos de desassossego, saí porta afora...
Mas agora diz se você acha que eu resolvi a história mal resolvida e o desassossego,
Que nada!!
Passei o domingo inteiro chorando, chorando de arrependimento, de raiva, de indignação, de irresignação!
Mas tudo bem, a vida continua, caiu! sacode a poeira e segue em frente...nem que seja se arrastando (quando disse isso ela sorriu...risinho irônico)
Mas vamos ao que interessa:
Meu Deus! Ela foi parar no hospital,
com crises de vômito,
e com um temperamento...um temperamento...
de quem queria se apagar...
Nessa altura eu achei que ela estivesse quase que querendo morrer mesmo...
Não, não!
O médico disse assim pra ela:
Você sabia que você está GRÁVIDA?
GRÁVIDA? disse ela.
Os olhos se encheram de lágrimas, num desses rompantes que até parece que o rosto queima, e a garganta se aperta num nó.
Ela respirou fundo, pensou daqui, pensou dali, ponderou com o resto de ponderação que podia ainda haver.
Agarrou o telefone...e ligou pra história mal resolvida pra dizer que
Ela e a história mal resolvida teriam um bebê.
Qual não foi o desespero e espanto dela ao ouvir assim da história mal resolvida:
Tira! Eu não quero filho nenhum, não quero você...muito menos uma criança...
Nesse instante o chão se abriu,
E ela conta que caiu num abismo de escuridão,
Os olhos pararam de enxergar,
E o coração de bater,
E o aturdimento então?
Mal dá pra falar...
Os dias que se seguiram foram só choro, desconsolo e tristeza...
Sabe aquele sentimento de morte que paira no ar quando alguém morre? disse ela.
De que tudo se apaga,
De que tudo é frio, e duro, e penoso...e sombrio.
Eu até hoje me pergunto como ela saiu da cama todas as manhãs,
Desconfio que ela ainda encontre alguma razão pra lutar,
Mesmo a história mal resolvida ligando pra ela quase todos os dias
Infernizando e torturando e tentando convencê-la do quanto aquele bebê
a faria sofrer, fora o aprisionamento...
Ela acha que o problema todo da história mal resolvida é a vergonha,
A vergonha que a história mal resolvida vai passar quando o seu pai souber
Tanto que a história mal resolvida fez ela jurar que nada contaria a ninguém...
Ela anda sozinha, e a história mal resolvida faz questão de frisar: "você está sozinha!"
Ai! O sentimento de rejeição, de indiferença, de abandono...é o que dói mais.
Vou topar com o dedão em paralelepípedo mal ajeitado na rua
Desviar a atenção,
Me esgoelar berrando e chorando que o meu dedão lateja de dor...
Talvez 30 segundos de alívio...
A vida dela é como se fosse um saco,
Que viraram de cabeça pra baixo e sacudiram
Pois, veja você...prossegue ela
Eu tinha um emprego...agora levanto toda manhã para as minhas sessões diárias de tortura
O chefe, não sabe o que faz com ela grávida
E falta com o respeito, e é desumano...sádico e cruel...
Talvez pense que agindo assim ela desista e vá embora
Ele tem sido tão estúpido e covarde...
E não é que essa infâmia de telefone não para de tocar...
Eu que quase morro com a dor dela, fico parada, aqui, na frente do monitor...atônita, perdida
E ela...bem! Ela já viu dias tenebrosos...mas iguais a esses?

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