Quando o passado não volta.

Viver o presente é daquelas coisas simples e maravilhosas a que não damos valor e nem mesmo notamos na correria do dia-a-dia. Só nos lembramos de agendar compromissos futuros, cuidamos de não tentar esquecer os aniversários de quem gostamos ou mesmo de lembrar algo que já esquecemos.
Nunca damos vivas pelo passeio no parque que estamos dando naquele sabado de sol, nunca respiramos o ar puro da praia e pensamos como é bom aquele momento (quando pensamos, é sempre em momentos que já foram). O presente é esquecimento, é o passado esperando acontecer.
Quando algo de ruim acontece, sempre dizemos a nós mesmos: Isso vai passar. Ou seja, se esperarmos um pouco o presente vira passado e tudo melhora.
Porém, para mim, o passado é sempre aquele amigo que me conforta nas horas amargas e o presente é a mulher que afaga meus cabelos na noite fria. O passado não volta e o presente sempre deve ser esticado mais um pouquinho.
O que já aconteceu não deve tentar ser revivido, seja uma amizade interrompida, seja um amor acabado. Reviver o passado é o caminho mais curto para um suicidio bem sucedido.
O meu suicídio já está marcado, programado e previsto, pois sou um nostálgico inveterado. Não sei amar e não sofrer, assim como não sei esquecer.
De todas as duas mulheres que amei, guardei um pedacinho dentro de mim, uma lembrança boa. O som que a chuva fazia quando, pelo telefone, ela dizia que gostava de mim, o perfume que a outra usava no dia em que a beijei pela primeira vez.
Quando a velhice enfim cobrar seu preço, quero que essas lembranças sejam o meu alento, o meu presente, o passado revivido e recuperado. Se não as terei do meu lado, quero, pelo menos, ver suas faces tão belas como no dia em que as conheci.
Isso sim é amar. Sem mais sofrer.