Sinceros

Confusões, esperanças, sonhos, ambições. Todas as divagações que três mentes, distantes no espaço mas não no tempo, podem alimentar serão expostas neste blog. O tudo e o nada servirão de temas para as excentricidades destes loucos!

terça-feira, abril 05, 2005

Tempo

Esses dias, andei sonhando com uma velhinha, ela era um tanto baixinha e magrela, com cabelos longos e bastante grisalhos, no meu sonho acordado, ela morava numa casinha, bem distante da cidade, uma casinha linda, cheia de arvores ao seu redor, arvores imensas, muito mais velhas que ela, e tanto mais sábias que a própria velhinha...Sabedoria que a velhinha costumava retirar delas com um simples toque, e absorvê-la cheirando-as quando a chuva condensava seus milhares de anos no ar. Havia ali perto também um jardim estranho, que ao invés de flores, tinha plantado alecrim, manjericão, e toda a espécie dessas plantas que se prestam a sortilégios, que ela mantinha com todo cuidado e carinho, mas sei lá pra que? Porque por muito tempo ela havia aprendido que esse negocio de feitiço é besteira, que petulância mexer na sabedoria das forças da natureza, o máximo que ela podia fazer era compartilhar e perceber a beleza que existia em cada temporal e em todas as noites de lua cheia, numa celebração a vida que se apresentava a ela todos os dias da forma mais esplendorosa como uma criança que descobre algo de novo. Andei sonhando, que a casa era quentinha, e que em torno dela havia macieiras carregadas de maçãs, que a velhinha costumava pedir permissão às árvores, antes de colhê-las para fazer chás para comê-los com biscoitos de chocolate que preenchiam cada cômodo da casa com um aroma aconchegante. Na sua sala, uma cadeira gostosa e fofa, envolta por pilhas e pilhas de livros, a que ela se entregava todas as tardes, quando não percorria os campos, com suas saias longas e brancas e pés descalços, às vezes fazia isso pela manhã, bem cedinho, para poder sentir o frescor do orvalho em seus pequenos pés. Que estranho, um dia pude reparar, que a velhinha tinha gravada nas costas uma estrela de cinco pontas tão linda, e apesar de sua pele ser um tanto opaca, ela brilhava lá, esplendorosa...”Coisa de quando eu era jovenzinha minha filha, ela me respondeu... tão lindo quanto no dia, em que achei que ela merecia ser gravada no meu corpo para representar tudo o que sou”...E assim passavam os dias dessa velhinha que eu encontrei nos meus sonhos, todos os dias cheios de paz e sabedoria, completos...Com dois cachorros enormes, que deitavam nos seus pés nos dias de frio perto da lareira em que ela lia histórias da vida para a sua alma, dois guardiões dela...às vezes, nos finais de semana a casa se enchia com algumas criaturinhas curiosas, ávidas por descobrir cada cheiro, curiosas por cada musgo daquelas enormes árvores...E que, para desespero dos seus pais, iam tomar banho de rio, com a velhinha ...Na certa, o pai das criaturinhas havia esquecido que quando era bebê tomava banho de rio, andava descalço na grama molhada, tomava banho de chuva, e costumava pegar vaga-lumes que se perdiam dentro de casa para levar lá pra fora, e que sempre ajudava a encontrar borboletas. Não tinha esquecido não, dizia ele, sempre falava: alguém tem que ter juízo por vocês três...Ah quanta besteira...Responde sempre a velhinha em meus sonhos...e assim foi...Esses sonhos foram me acompanhando...Tão doces...Como uma manhã de sol na primavera, tanto importava se eu estava acordada ou dormindo...Até que acordei numa manhã com duas criaturinhas magrelas pulando na minha cama, junto com os cachorros lambendo o meu rosto: vovó acorda...Vamos tomar banho no riacho...

Hail

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