Sinceros

Confusões, esperanças, sonhos, ambições. Todas as divagações que três mentes, distantes no espaço mas não no tempo, podem alimentar serão expostas neste blog. O tudo e o nada servirão de temas para as excentricidades destes loucos!

sexta-feira, janeiro 20, 2006

DAS HORAS QUE JÁ PASSARAM

Já se passaram algumas horas desde que você se foi. Desde que você puxou a porta escondendo o pouco que eu ainda podia ver de você. E aqui ficaram as suas coisas espalhadas, em cada canto da casa tenho que encontrar um sorriso teu se esgueirando pelo quarto, com o teu cheiro dentro do meu armário. Já se passaram algumas horas desde que você foi para nunca mais voltar, e apesar de ter pedido para você ficar, com toda a insistência impaciente de uma criança e com um nó na garganta de quem já não quer mais ver nada do que era bom se esvaindo entre os dedos e sem poder fazer nada para evitar que os sorrisos e o brilho dos olhos se perdessem.
Você foi, pegou os sentimentos que você deu para mim, jogou-os numa mala e por aquela porta saiu arrastando-a. Eu só consegui procurar a escuridão, deitar meus ossos e a minha carne, fechar os olhos e esquecer que a vida existe, que ela existe sem você, que ela existe tão cinzenta e feia sem você, que as cores desbotaram e escorreram, desde que as suas gargalhadas não ressoam mais na minha alma. E sussurrar teu nome torna meu hálito gélido, porque o meu nome já não sopra mais da tua boca. As luzes se apagaram, e o verão foi embora, meus olhos já não são mais vivos e se cegaram a olhar somente as minhas lembranças e deixaram de ver o caminho que segue. Tudo diante de mim se movimenta numa lentidão torturante porque a minha cabeça já misturou realidade com imaginação e lembrar suga a força dos meus braços e o coração bate em dores.
Desde que você se foi o ar tem um gosto amargo e a minha imagem no espelho é infeliz, uns tons de preto tornaram meus olhos mais fundos, a minha pele ficou pálida e a minha boca perdeu a cor, como se meu sangue tivesse deixado de correr forte e quente pelas minhas veias. Desde que você se foi, acordar me destrói os nervos, arrebenta os músculos e talha o sangue, porque quando a minha mente desperta ela mesma se encarrega de lembrar que você fechou a porta para nunca mais voltar e que eu já não vou mais me emaranhar nos teus pêlos, mergulhar minhas mãos nos teus cabelos, e deslizar no teu suor, que a minha boca já não vai mais sentir o gosto forte, doce e denso dos teus beijos.
E lembrar que você se foi e eu permaneci sentada, dizendo um monte de sandices para te convencer a ficar. Guardei o teu último abraço na memória porque desde que voê se foi a minha cabeça não tem mais o teu peito para se apoiar, esquecer de tudo e só acompanhar o movimento cadenciado da tua respiração, nem o calor calmante dos teus beijos e nem o roçar dos teus dedos nos meus ombros. desde que você fechou a porta da nossa casa as minhas pernas já não têm mais onde se entrelaçarem, os meus cabelos perderam os cachos que costumavam ter quando você misturando o teu suor com as tuas mãos os deixavam lindos, e a minha boca tinha uma cor quente e úmida, meu rosto um rubor extasiado e os meus olhos quase negros se tornavam.
Já se passaram algumas horas desde que você se foi e eu achei que você iria voltar, me dizendo que se enganou e que é frio e triste lá fora, mas frio e triste ficou aqui dentro sem as tuas gargalhadas debochadas, sem a tua fúria exata, sem a tua sabedoria e obstinação encantadoras e sem a tua voz calma e forte. Tento esconder a minha trsiteza entre risadas falsas e a minha desolação numa calma fingida, os meus soluços num silêncio cheio de ruídos. O meu olhar continua vagando o nada, desde que você se foi e eu fiquei aqui com as mãos cheias de flores mortas.

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